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  • Foto do escritorAdriana Tanese Nogueira

EDUCAÇÃO PSICOLÓGICA: O QUE É?

Na escola aprendemos a ler e a escrever. Desenvolvemos conhecimentos sobre diferentes matérias, nos entediamos, adquirimos amigos e inimigos; e, algumas vezes, alcançamos alguma orientação sobre como pensar, ou seja, sobre o próprio processo do pensamento, em particular sobre o nosso, sobre como pensamos e “dispensamos”, nos perdemos em pensamentos sem direção e nos reencontramos. Assim haveria de ser, pelo menos. Mas sobretudo, hoje nas escolas adquirimos regras, comportamentos pré-determinados e modos-de-ser pré-confeccionados. Entretanto, não somos robôs. Precisamos mais do que manuais sobre como Ser. Uma pessoa não pode encontrar a felicidade seguindo trilhas dadas, e não há fórmulas para interpretar um ser humano.


Quando é que uma pessoa aprende a respeito do que sente? Como pode ela descobrir como lidar com suas sensações interiores e sentimentos, como entender seus pensamentos para saber qual resposta dar ao mundo, aos outros, aos muitos e contínuos desafios de cada dia? E o que dizer dos sonhos? E daquele sentimento de que há alguma coisa espreitando por dentro e tentando se comunicar conosco e que tememos? De todo aquele mundo de coisas que não parecem fazer sentido e que, entretanto, sentimos e persistem a nos cutucar nos assombrando? O que fazer disso tudo?


Para saber o que fazer disso precisa em primeiro lugar entender “o que é isso”. Infelizmente, não existe um lugar oficial e público para esse tipo de aprendizado. Quem quiser evitar fórmulas prontas, e realmente chegar a entender quem é, vai precisar sair do caminho coletivo e direcionar-se para a educação psicológica. Sem ela não somos que meros repetidores do sistema, podemos aparentar ser diferentes mas no fundo não somos. É só aparência.


A educação psicológica ensina a linguagem do mundo interior, ajuda uma pessoa a entrar em contato com o universo da subjetividade e a educa a caminhar ao lado de si própria, superando a baixa autoestima, as vergonhas, as dúvidas. A educação psicológica permite, também, o aprendizado da coragem e da autoafirmação, desenvolve a inteligência cognitiva e emocional junto à habilidade de entender os outros. Melhora a sensibilidade, dispara a sede pela vida e a força de vontade, além de promover uma atitude amorosa para consigo, os outros e o mundo.


Não, não é uma religião. Não acredito em religiões como substitutas de uma boa terapia. Se assim forem abordadas (como muitas vezes acontece) elas não são nada mais do que mais um caminho pré-determinado, mais uma receita pronta, bonitinha e com fitinhas para alcançar o que só se pode de fato reconhecer através do seu se encarar. É você com você. Sem mediações, sem a interpretação do pastor, do padre, do guru, do livro. Você pode aceitar orientações (desde que criticamente), ler e saber de outros pontos de vista, mas a resposta final e verdadeira, que vai caber em você como uma roupa feita sob medida é só sua. É no encontro entre você e você mesmo, naquela intimidade na qual não cabe ninguém além de você mesmo, é nesse lugar que você tem uma chance de encontrar Deus ou qualquer coisa que você relacione a este nome. Esqueça dos outros. Esqueça do mundo.


E para chegar ao espiritual verdadeiro, profundo e sincero, é preciso passar pela psicologia. Somente o trabalho psicológico nos permite sair das coisificações teórica de credos e crenças, sejam elas sociais, culturais, religiosas ou políticas: crenças, coisificações, identidades estanques e mofadas.


A educação psicológica é tão importante quanto aprender a ler e a escrever. Não é pelo aprendizado de livros, mesmo os de psicologia, que uma pessoa vai poder se conhecer, mas desenvolvendo o olhar correto, aprendendo a refletir sobre si própria enquanto vive. Livros oferecem orientações e visões amplas do assunto, mas permanecem genéricos diante da realidade única e inimitável de cada indivíduo. Conhecer-se não é categorizar-se dentro de um determinado código de interpretação (cuidado psicólogos!). Ao contrário do que se pensa, esse modo de proceder consigo mesmo nos esclerotiza, nos castra, nos faz mais burros e problemáticos do que de fato somos. No lugar de abrir caminhos para a compreensão dos acontecimentos internos, os fecha pregando etiquetas e explicações prontas que serve para tapar os olhos e achar que “resolvemos” o “problema”.


O único modo para se conhecer sem se congelar em estereótipos é aprendendo a reflexão crítica sobre si próprio através do exercício da presença consciente. Essa é uma prática que só ocorre no diálogo com uma pessoa que já "funciona" assim, ou seja, com um psicoterapeuta treinado nessa modalidade de relação (consigo e com o outro). Não um psicólogo, cujo conhecimento é sobretudo acadêmico, mas um psicoterapeuta, a pessoa que sabe por as "mãos na massa", aquela que caminhou sobre suas próprias pernas através de um longo aprendizado mental e emocional, sobretudo pessoal, tendo alcançado a posição que ocupa inteira, de corpo, alma e mente. Um psicólogo que não tem experimentado uma grande variedade de vida interior, que não cumpriu a jornada interna não é melhor para dar conselhos do que qualquer outra pessoa de bom senso e com um mínimo de sabedoria. Ambos tem conhecimento sobre os "outros", um possui preconceitos coletivos vindos da mentalidade comum, o outro tem "conhecimento científico" baseados em estatísticas e análise de laboratório. O psicoterapeuta verdadeiro ao contrário é aquele que está em contato com a alma humana – através da conexão viva com a própria – e pode por isso compreender as dos outros e ajudá-los a se compreenderem porque ele vive em constante e consciente contato com ela.


Por que deve ser um profissional psicoterapeuta? Poderia de fato ser qualquer outra pessoa que já tivesse alcançado esse nível de reflexão e autoconhecimento. Entretanto, seria como pedir para um cientista ter conversas educativas sobre física, por ex., com alguém no primeiro ano de colegial ou do primário. Ele pode fazer isso, com certeza, pelo menos deveria fazê-lo com seu filho. Mas estará ele disposto a utilizar seu tempo assim?


Um cientista só terá um diálogo que lhe seja realmente proveitoso com outro cientista. Com os demais interessados, ele poderá ser um professor, ou seja, oferecer uma educação sobre o que tão bem conhece. Isso porque o diálogo com o principiante pertence ao campo do trabalho. Ensinar é um trabalho. Que se ensine física ou desenho, matemática ou dança, ou que se faça educação psicológica o contexto é o mesmo: exige-se pedagogia e didática, tempo, disponibilidade e vocação.


Em tempos de tamanha ignorância a respeito de si mesmos, a educação psicológica deveria ser tão esperada quanto ir à escola, tão reconhecida e exigida quanto saber ler e escrever. As condições do nosso convívio social e de nossas relações pessoais clamam por isso.



Adriana Tanese Nogueira - Psicanalista, filósofa, life coach, terapeuta transpessoal, intérprete de sonhos, terapeuta Florais de Bach, autora, educadora perinatal, fundadora da ONG Amigas do Parto (www.amigasdoparto.org), do AELLA - Instituto Internacional de Educação Psicológica e Espiritual (www.aellaedu.com) +1-561-3055321

Photo by Siora Photography on Unsplash





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