É importante entender como funciona a psique porque isso nos ajuda a evitar conflitos, dores e complicações.
Jung foi o primeiro a perceber que de alguma forma “tudo é psique” porque vemos o mundo através da nossa psique. Mas podemos mapear algumas coisas: temos uma psique consciente e outra inconsciente. Freud, mais de um século atrás, demonstrou que temos uma parte da nossa psique e até da nossa personalidade que é inconsciente. A ciência moderna comprovou isso via seus mecanismos.
Quem somos “nós” nessa coisa que chamamos de “psique”? Nós somos um Eu que se define a partir daquilo que não é. O Eu (que se torna um “vulgar ego” quando vive de seu umbigo) é o centro de nossa personalidade, ele é só parcialmente consciente de si. Há áreas de si que ele desconhece (exemplo: sabe aquelas coisas que os outros veem de você e você não enxerga? Projeções deles ou cegueira sua? Devaneios deles ou desconhecimento seu?)
O Eu por natureza deve ter uma estrutura forte o suficiente para não ser derrubado pelos conteúdos do inconsciente, se não ele simplesmente é engolido e some como sujeito. Isto é o que leva à loucura (esquizofrenia, psicose, etc.). O que se entende por “conteúdos do inconsciente”? Medos, emoções, lembranças, visões, sensações, traumas e até intuições. Enfim tudo o que pode sacudir a estabilidade do ego. Se você via dar uma palestra para mil pessoas você deve ter um Eu forte para sustentar a tensão interna e encarar o público, certo? Se a preocupação diante do evento for maior do que o Eu, a palestra não vai ser das melhores.
Assim, o Eu, para construir algo (desde relação a carreira) deve ter uma estrutura interna que implica uma certa “insensibilidade” diante dos sentimentos, emoções, sensações. Porém, atenção!, para que este mesmo Eu possa evoluir, crescer, se aprimorar, aprender até, ele precisa ter uma certa “vulnerabilidade” para ser, metaforicamente falando, fertilizado. Jung dizia que o Eu é como uma ilha que emerge das águas profundas do inconsciente. Se a ilha não for banhada pelas águas ela acaba por se tornar terra estéril, se ela for constantemente inundada também não vai crescer nada nela. Explicando: o primeiro caso reflete aquelas pessoas que não se abrem para nada de novo ou diferente (daquilo que são e acreditam) porque o conteúdo novo iria questionar seu sistema de crenças (= ego fraco). O segundo caso é daquelas pessoas que acreditam em tudo e/ou são emotivas demais e não consegue a lucidez para pensar com clareza e/ou decidir com sabedoria (= ego fraco).
Um ego forte aguenta a ventania, a enchente, a dificuldade e dela sai mais forte porque aprendeu uma lição, porque aproveitou a desavença, o obstáculo, a necessidade de mudar de rumo, de foco, de ideia e de crença para crescer. Um Eu fraco vai precisa de guardas e controle para fazer tudo ir segundo seu modo de funcionamento porque se algo sai do trilho ele não sabe como administrar o imprevisto e teme ser derrotado.
A psicanálise é a arte e a ciência de ensinar a transitar entre essas realidades sem afundar no pântano do emocional (traumas, medos, inseguranças, dúvidas insistentes) ou enrijecer-se na impermeabilidade (do pensamento rígido e das crenças dogmáticas que impedem o desabrochar da inteligência emocional e cognitiva). Essa gangorra espelha a realidade psicológica e social dos tempos que vivemos.
Tem o dia da caça e o dia do caçador. O Eu, como disseram todos os grandes mestres da humanidade, não é o senhor da terra. Se ele quiser continuar sobrevivendo e prosperando deve aprender a se questionar e colocar a verdade acima de suas vontades. Quando estas predominam estamos diante de um ego que berra “eu quero porque eu quero”! E para camuflar seu querer egóico inventa devaneios que vende como “verdades”. Sua total falta de escrúpulos lhe garante aquela cara de pau que os inundados por emoções, os sem clareza de pensamento e sobretudo os que se espelham no mesmo desejo de onipotência acham ser a prova de que “eu quero porque eu quero” está baseado numa vontade soberana e imbatível. O próprio deus estaria falando pela boca deles (deus com d minúsculo, claro).
O pecado de onipotência é isso: esquecer que somos criaturas entre outras criaturas e que todas merecemos paz e amor para realizarmos aqueles chamados e talentos que fazem prosperar o bem coletivo.
Adriana Tanese Nogueira - Psicanalista, filósofa, life coach, terapeuta transpessoal, intérprete de sonhos, terapeuta Florais de Bach, autora, educadora perinatal, fundadora da ONG Amigas do Parto (www.asmigasdoparto.org), do AELLA - Instituto Internacional Ser&Saber Consciente (www.institutossc.com) e do ConsciousnessBoca.com em Boca Raton, FL-USA. +1-561-3055321
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