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  • Foto do escritorAdriana Tanese Nogueira

É PERMITIDO SER “MÁ”

Imagine que sua amiga ou amigo, ou namorado/a lhe dê um chute na canela. Se você for um brutamonte vai espancá-lo e depois, talvez, perguntar o que foi, por que fez o que fez. Se for uma criança levada vai lhe dar outro mais ou menos da mesma intensidade e esperar para ver ou correr. Mas se você for uma pessoa civilizada e “boa” vai provavelmente fazer de conta que nada aconteceu. Vai engolir e olhar desconfiado.

E aqui entra a autoestima. Há pessoas que vão fazer tão bem de conta que literalmente não vão sentir nada, mesmo a canela inchando; outras vão sentir, mas não dar importância (“não foi nada não”) e esquecer rapidamente porque não querem problemas. E há as que relevam porque querem ser “boas”, “pensar positivo”. Este tipo de “bondade” equivale a suprimir os próprios instintos de autodefesa que incluem o respeito próprio. Imaginem alguém levando chutes na canela desde pequeno e fazendo de conta de nada, ora porque é proibido falar que algo está acontecendo ora porque o ensinaram a ser “bom”. Humm...


Diante de um chute na canela, e antes de chegar a conclusões apressadas, é importante refletir sobre quais são as questões em jogo:

1) A pessoa pode não ter percebido o que fez (tem um tique nervoso?).

2) Ela deu o chute intencionalmente porque está com raiva de você.

3) Chutou por engano (queria chutar a pedra ao lado?).


Diante da sua dor (“Ai, a minha canela!”), as reações da outra pessoa deveriam ser:

1) Nenhuma (ela se mantém inconsciente, não sabe o que fez).

2) "Não fiz nada de mal.” “Foi uma coisa de nada, não exagere!” (ela se faz de sonsa, mente para si mesma e quer manter uma fachada).

3) "Você merece" (ela está lhe punindo).

4) "Desculpa!" (ela assume o erro.)


A reação saudável de quem recebe um chute na canela deveria ser:

1) Se esquivar para evitar outro (se afastar da pessoa).

2) Reagir e manifestar a própria raiva, surpresa, desapontamento, pedir explicação.

3) Dar um chute de volta sem pensar duas vezes.


Sua reação vai depender do seu caráter e de seus valores. Mas, independentemente disso, as circunstâncias podem fazer de cada uma dessas opções a certa. A tal pessoa poderia ter um "tique nervoso" que despacha ora e outra o pé contra a sua canela enquanto tem uma simpática conversa com você (quantas pessoas não há assim!). Se você não mostrar qualquer reação, a pessoa nunca vai poder tomar conhecimento do que ela faz, ou nunca vai ter que encarar as próprias mentiras. Ou seja: os outros se corrigem se você colaborar para isso.


A metáfora vale para muitas mulheres (e homens também!) que sofrem situações desagradáveis de namorados ou amigas, com os quais supostamente haveria de ter amor. A situação não vai mudar até aquela que sofre o prejuízo ficar calar. Quando o mal-feito não é assumido (como erro ou como intenção), você está diante da sombra da outra pessoa. Situações como essa ocorrem quotidianamente. Significa que o que a outra pessoa fala ou exprime abertamente não é toda a verdade. Não quer dizer que seja mentira (às vezes até é, então a pessoa é falsa), quer dizer que nem tudo está sendo dito. Voltando ao meu exemplo: se o chute não for adequadamente explicado, então há sujeira debaixo do tapete. Há sentimentos não assumidos que se manifestam nas entrelinhas do comportamento.


Com pessoas assim, é importante usar a mesma “sutileza” que elas generosamente nos oferecem. Falar diretamente não adianta, pois elas não assumem suas responsabilidades. Tentar torná-las conscientes também não funciona porque elas não querem se dar conta do que fazem. Resta fazê-las experimentar o gosto amargo do tratamento que dão aos outros. Portanto, reservamos-lhes chutes “sem querer e sem saber”. Isso não quer dizer se tornar como elas. Significa saudável auto-proteção. A diferença entre você e a pessoa sonsa ou má consiste no fato que você está no controle de seu comportamento. Este é o mundo no qual vivemos. Essa é a psicologia humana. Bancar a Poliana ou a Maria sofredora não faz sentido, só aumenta a carga nos ombros. E ainda por cima, inutilmente.


Agora com aqueles que fazem sem verdadeiramente o perceber, é importante mostrar as consequências de seus atos, com tolerância e paciência. Novelas mexicanas (ou da Globo) não são necessárias e muitas vezes nem mesmo efetivas porque os berros acabam por obscurecer as coisas importantes que se queria transmitir. E com os que têm “tiques nervosos” e continuam machucando “sem querer” e não tem como mudar, é profilático simplesmente sair de perto. Tem-se o direito a canelas sem hematomas.


Sintetizando: ser bons não é ser tolos, nem passivos e muito menos medrosos. Vamos valorizar a bondade e preservá-la usando-a bem, na hora certa e com a pessoa certa. Ser bons com quem é mau, equivale a alimentar o mal.



Adriana Tanese Nogueira - Psicanalista, filósofa, life coach, terapeuta transpessoal, intérprete de sonhos, terapeuta Florais de Bach, autora, educadora perinatal, fundadora da ONG Amigas do Parto (www.amigasdoparto.org), do AELLA - Instituto Internacional de Educação Psicológica e Espiritual (www.aellaedu.com) +1-561-3055321


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