Adriana Tanese Nogueira
FAZ AINDA SENTIDO O NATAL?
O Natal é um dos produtos mais rentáveis do ano. As lojas se apressam desde muitas semanas antes para oferecer, e literalmente empurrar goela abaixo dos consumidores, artigos vinculados ao Natal. As musiquinhas tocam as mesmas canções ano após ano. Nos sentimos embalados pelo conhecido refrão. Na correria que se tornou a vida, ter o sabor da tradição, do que é antigo ou mesmo velho dá uma sensação de alívio, enquanto caminhamos por lojas em meio a todo tudo de coisa: desde batedeira a relógio; de brinquedo à lingerie, de maquiagem à carros...
Jesus Cristo também virou produto: há igrejas que se enriquecem usando seu nome. Há quem diz que se Cristo está com você, o dinheiro vai vir também, porque Jesus é poder. Um homem que morreu na cruz... abandonado por todos, ensinando uma boa nova que tem um pouco de tudo menos aulas de finanças e submissão ao status quo.
Comercializamos tudo. Ser “bons” é produto porque vale presentes, onde “ser bons” coincide com o que a mamãe e o pai falam, ou o namorado, a namorada, o chefe, a TV. Ser “bons consigo mesmos” significa se dar presentes. A bondade não é de graça, ela é funcional. E, a propósito, o que será então “bondade”?
Para os que desejam ser mais e melhores do que consumidores de produtos prontos distribuídos por um mercado ganancioso e soberbo, tem uma boa notícia: o Natal ainda faz sentido. O Natal é como um pequeno baú com um tesouro dentro: até não ser descoberto ele continuará existindo, fazendo lucrar milhões dólares e mantendo outros tantos humanos na escuridão de seu ser meros consumidores do Natal.
Consumir o Natal é trair o sentido daquela Criança Divina numa singela manjedoura.
Jesus: a Criança Divina em nós.
Natal: nascimento de um menino.
Menino: Jesus, filho de mãe solteira e pai postiço. Ou filho de um casalzinho simples, sem status e sem renda.
Jesus que se tornou Cristo.
O que será que significa “Cristo”? Cristo é o ungido, tá, o “escolhido por Deus”. Mas e daí? Que diferença faz isso em minha vida? Continua aberta a questão sobre como pode um Deus todo poderoso escolher um “pobre cristo”, como dizemos na Itália ao nos referirmos a um coitado da vida, que depois deixa pendurado numa cruz até morrer???
Os cristãos dos primeiros tiveram por alguns séculos que gastar muitos neurônios e muita saliva para tentar explicar aos pagãos (e a si mesmos) como pode Deus permitir que seu Filho morra numa cruz entre. E a questão não está fechada porque, ainda hoje em dia, quem saberia explicar tamanho “absurdo”? Que pai é esse?
E estamos aqui, dois mil anos depois ainda com um Deus que morre na cruz e outro que deixa seu Filho morrer entre ladrões como um coitado qualquer... Algo deve haver aqui, não?
Algo que a razão não reconhece, com certeza – porque racional não é.
Algo que a fé cansada não saca direito, pois essa “fé” foi o resultado de uma lavagem cerebral de séculos e mais séculos, padres e mais padres, pastores e pais, escolas e sociedade. Fé que se preze não é imposta, é uma experiência.
Todo ano celebramos o Natal: um menininho que nasce.
Quem estamos celebrando de verdade?
Que família é essa?
O que tem a nos dizer?
Se superarmos as aparências da matéria para olhar para o simbólico, o que fazemos pela psicanálise junguiana e pós-junguiana, descobrimos que o Natal é símbolo do momento em que uma nova luz volta a brilhar no mundo: a luz do sol que começa a alongar os dias após o solstício de inverno, que no mundo pagão prometia uma nova primavera e uma nova vida, e a luz de uma nova consciência que transforma radicalmente sua forma de estar no mundo e seu sentido da vida.
Feliz Natal!
Adriana Tanese Nogueira - Psicanalista, filósofa, life coach, terapeuta transpessoal, intérprete de sonhos, terapeuta Florais de Bach, autora, educadora perinatal, fundadora da ONG Amigas do Parto (www.amigasdoparto.org), do AELLA - Instituto Internacional de Educação Psicológica e Espiritual (www.aellaedu.com) +1-561-3055321
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