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  • Foto do escritorAdriana Tanese Nogueira

A INVEJA É FEMININA?

Quando se pensa em inveja, imagina-se um vulto de mulher. É a mulher velha invejando a jovem, a feia invejando a bonita, a gorda invejando a magra, a ignorante invejando a culta...

A palavra inveja vem do latim “invidia” que significa “sentimento de animosidade para com os bens, qualidades e sorte alheia.” Invidia deriva do verbo invidere, composto de in negativo e videre olhar. Portanto: olhar mal (de onde a expressão brasileira “mal-olhado”).


Será um acaso que inveja é um substantivo feminino?


Muito mais comum do que se imagina, a inveja se apresenta em gradações: da mais inócua à mais camuflada até a mais venenosa. No rancor que a inveja suscita está sempre presente um elemento de admiração. Não se tem inveja de algo que não admiramos.


Se admiramos, por que invejamos?


Muitos anos atrás publiquei um artigo com o título de “Fenomenologia da inveja” que teve muito sucesso: deve ter respondido à experiência de muitas pessoas, sendo a maior parte dos comentários de mulheres. De fato, assim como a inveja parece ser um fenômeno feminino, ela também golpeia mais as mulheres. Vejamos por quê.

Diante de alguém que admiramos ou que faz algo que admiramos temos três opções: aprender com a pessoa, competir com a pessoa porque nos sentimos inferiores ou, terceira opção, solapar a pessoa tentando ofuscar seu brilho. O primeiro caso não é de inveja. Os outros dois sim.

Como se escorrega do primeiro para o terceiro?

Quando uma pessoa não se sente capaz de atingir o nível no qual colocou a outra, quando esta pessoa não quer se dar ao trabalho de fazer o caminho das pedras para chegar onde a outra pessoa está, ela se sentirá um grande desconforto interno que a impulsionará a querer mostrar o quanto ela é boa, ou ativa, ou bonita, ou rica, ou capaz... o que for para ela mesma se sentir melhor consigo. A briga da invejosa é com ela mesma, em primeiro lugar. Ela está lutando contra o que percebe como uma mancha em si, uma falha na essência que não pode ser “consertada”. Agora, de um ponto de vista terapêutico é importante ressaltar que quando a pessoa chega nesse lugar é porque ela está psicologicamente pronta para superar o desconforto através de um bom trabalho interior (significando, claro, encarar o sentimento de inveja e tudo o que está a ele atrelado... o que faz uma pessoa com ego frágil e ambição forte pular para o nosso próximo parágrafo).

A invejosa não percebe a qualidade da outra pessoa como o resultado de trabalho, de dedicação, esforço e aprendizado. Enxerga a luz da outra como um presente recebido de graça e ela como a “coitadinha” que não recebeu do papai do céu a mesma facilitação. Ou seja, a pessoa que age a partir da inveja quer chegar ao topo sem ter caminhado o suficiente. Quer o lustro sem o merecimento.

Se fosse só isso, não teríamos muitos problemas. O terceiro caso da inveja, que é mais comum do que gostaríamos de saber, complica muito a convivência social. Se trata do caso de a pessoa não se limitar a desejar o que não está ao seu alcance e competir para mostrar ser “a melhor”. A invejosa investe seus esforços em derrubar a outra pessoa. Diretamente? Abertamente? Nunca. É por isso que a inveja é feminina...

A inveja faz parte das armas do feminino assim como a violência explícita faz parte das armas do masculino. Homens e mulheres sentem inveja. Este sentimento entra em ação quando a possibilidade de vencer a corrida com base no treino é pequena e então se utilizam outros recursos: fofoca maldosa, calúnia, intromissão desrespeitosa, inocência fingida, mentira com o sorriso nos lábios...

Quanto mais a pessoa se sentir inferior e quanto mais essa inferioridade for experimentada como insuperável, maior o potencial da inveja nociva. Ainda hoje, qual dos dois sexos está socialmente na desvantagem? A mulher. Qual dos dois sexos é o mais fraco socialmente? A mulher. Logo, a inveja não só é feminina como comumente é da mulher.

De quem de regra a mulher tem inveja?

Do homem? Não. Na maioria das vezes, não. Pelo simples fato que este tipo de mulher está acostumada a dar ao homem um lugar de poder “de direito”.

Ela terá inveja de outras mulheres! Da mulher que conseguiu vencer os preconceitos que inibiam sua ação no mundo, da mulher que não se rebaixou a se mutilar em estereótipos para se construir como sujeito social, da mulher que tem poder (qualquer tipo, real ou imaginado), inteligência e, sobretudo, liberdade.

A liberdade de uma mulher é o que as outras mulheres mais invejam. Dinheiro, beleza, trabalho, posses, maridos... tudo se pode “consertar” ou maquiar. Mas a liberdade... Essa incomoda porque ela depende de um trabalho interior que se tem medo de enfrentar.

Há também muitos homens invejosos e sua inveja é ainda mais amarga e indigesta quando são invejosos de uma mulher. É conhecida a expressão de Freud segundo a qual “as mulheres teriam inveja do pênis”. Vamos decodificar essa expressão para fazer jus à intuição freudiana: numa sociedade em que ter um pênis é ter respeito e direitos é claro que quem (a outra metade da humanidade) não tem nada disso não está feliz. O mundo deu voltas e hoje muitas mulheres demonstram a força que foi sufocada por tantos séculos. Elas falam, podem falar alto e mostrar do que são capazes. E eis que entendemos por que foram caladas: porque seu poder dá medo. Enquanto isso a opressão das mulheres de forma explícita e direta não é mais tão fácil como antigamente. O desconforto de certos homens em perceber que apesar de seus títulos, poder econômico e pênis são surpassados por uma mulher é difícil de engolir. E desponta a inveja como novo subterfúgio para sabotar as mulheres capazes.

Assim, novas mulheres, precisa tomar cuidado com homens e com mulheres. Há homens aliados e há homens invejosos. Há mulheres aliadas e mulheres invejosas. Não deixem, porém, de continuar perseguindo a liberdade de ser doa a quem doer.

Adriana Tanese Nogueira - Psicanalista, filósofa, life coach, terapeuta transpessoal, intérprete de sonhos, terapeuta Florais de Bach, autora, educadora perinatal, fundadora da ONG Amigas do Parto (www.asmigasdoparto.org), do AELLA - Instituto Internacional Ser&Saber Consciente (www.institutossc.com) e do ConsciousnessBoca.com em Boca Raton, FL-USA. +1-561-3055321

Photo by Artem Beliaikin on Unsplash



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