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  • Foto do escritorAdriana Tanese Nogueira

HOMENS COM COMPLEXO MATERNO NEGATIVO

Atualizado: 26 de ago. de 2021

Ele se apaixona por uma mulher, e flutua nas nuvens da alegria. Sempre buscou ele uma mulher assim, as outras relações não deram certo, as outras mulheres “não tinham nada a ver”. Agora, sim, ele encontrou sua “alma gêmea”; está pronto para iniciar uma nova vida a dois.

O tempo passa e, apesar do grande amor, algumas brechas racham a compacta unidade do relacionamento. Venenosas percepções e interpretações poluem a crença beata de uma união feliz. O homem, porém, continua acreditando, imbuído como está pelo seu sonho; enquanto isso seu comportamento trai outra perspectiva. Ele é ciumento e desconfiado. Inseguro, se assusta se mulher veste tal roupa ou se ela olha pelos vidros do carro quando viajam. Até mesmo sem querer, ele lê a recusa em gestos e posturas, pior, ele começa a reagir agressivamente a toda interpretada rejeição por parte dela sem ao menos ter conferido, perguntado, conversado.

O fantasma da traição entra em cena, poderoso e tirânico. Sob sua luz torpe, os modos dela são interpretados. Seu semblante, comportamento, escolhas e palavras são duramente esquadrinhados. Nada mais é espontâneo e confiante. A qualquer hora, ele espera ser traído: ela com outro, ela indo embora, ela abandonando-o. Ele espera por isso e está no fundo apavorado, melhor então rejeitar antes de ser rejeitado. Dirigido como uma marionete pelo espectro que o assombra, ele torna a vida dela um inferno.

O amor (ou seu eco) continua ainda vivo, palpitante pede trégua e graça. Mas a relação vacila sob o peso do monstro da perfídia e deslealdade. Ele não acredita. Quando se solta é quase por engano, logo é atormentado pela obsessão que cutuca sua mente: defender-se, precaver-se da própria mulher que o ama e que ele ama.

Confusa pelas contradições dele, ela sofrerá a relação e, com o tempo, o peso do martírio se tornará insuportável. Ela é agredida verbalmente e usada como bode expiatório, é-lhe retirado todo o suporte. Ela tem um inimigo em casa, quem não se fia de alguém não pode ser seu amigo. Até quando ela vai aguentar? Isso vai depender de sua consciência. Como as mulheres estão historicamente acostumadas a não serem tratadas como rainhas pelos homens que amam, ela vai aguentar por mais tempo do devido. Mas se for uma mulher que tem personalidade não permitirá ter sua autoestima destruída e chegará o dia em que dará um basta na relação, mesmo tendo que dilacerar seu coração. Amor que só dói deve ser doença.

Ela vai embora, e ele confirma assim que todas as mulheres são traidoras, que não se deve confiar no amor, talvez ele até não mereça (mas não dará o braço a torcer) mas o fato é que “amor e mulheres” não funciona. “Mulheres e sexo”, sim. Mulheres e amor, não - melhor ser precavido. O coração ávido por amar sangrará, mas o homem assolado pelo complexo materno negativo o trancará no baú escuro, regará o terreno a whisky e mulheres fáceis (todas as que não se amam), endurecerá seu corpo e levará adiante a vida em seu vale solitário e desesperançado. Amém.

Este quadro desolador é o resultado, entre outras coisas, de uma condição psicológica desequilibrada. Há na raiz da experiência afetiva desse homem uma relação com a mãe marcada pela traição. O abraço materno não era sincero, completo, inteiro. Não havia entrega profunda, acolhimento e aceitação - vitais na construção da pessoa humana em sua primeira infância. No momento da máxima vulnerabilidade (primeira infância) faltou verdadeiro amor materno.

Há vários níveis do problema e várias razões dele existir:

  • A mãe não estava perto por motivos que vão além da vontade dela; nesse caso o sentimento de rejeição é grande, mas pode ser suavizado pela presença verdadeira no tempo de qualidade que mãe e filho passam juntos;

  • A mãe estava, mas não queria ser mãe, não escolheu a gravidez, não tem aptidão para a maternidade, prefere outras coisas. A rejeição é explícita e dolorosíssima. A única saída aqui é ter a sorte de ter um substituto de mãe por perto: tia ou avó;

  • A mãe não está feliz no casamento e/ou não queria ter filhos ou não queria ter este filho, talvez porque ele é o caçula e ela já teve o bastante, ou talvez porque este filho se pareça com o marido que ela não ama, ou talvez porque este filho está vinculado a ela por laços não felizes de outras vidas e o ódio de então não se dissolveu ainda.

Qualquer que seja a situação, esse menino crescerá sem real amor materno. A menos que a rejeição seja explícita (o que não é comum), ela será camuflada pela hipocrisia, e o segredo a respeito dos verdadeiros sentimentos será mantido por ambos: mãe e filho. Pela mãe, porque esta não pode nem consigo mesma admitir que ela não ama o filho (seria um escândalo social e psicológico de proporções gigantescas); pelo filho, porque, como todas as crianças, ele pensará ser o encapetado não merecedor do amor materno, e se admitisse não ser amado “sem motivo” sua autoestima despencaria assustadoramente. Mãe e filho estarão vinculados uma ao outro pela fraude.

O dia em que esse homem se apaixonar (porque, apesar de tudo, ele é capaz de amar), como poderá ele se entregar de verdade, do fundo do seu coração a uma mulher? Tudo o que sua alma afetiva conhece sobre mulheres é o que ele aprendeu com a primeira mulher de sua vida: sua mãe.


Adriana Tanese Nogueira - Psicanalista, Filósofa, Life Coach, terapeuta transpessoal, terapeuta de Florais de Bach, autora. www.adrianatanesenogueira.org e www.aellaedu.com - Boca Raton, FL-USA. + 1-561-3055321


Complexo materno negativo e o arquétipo da mãe

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